O Espírito de Tertúlia*
“Não há homens cultos, há homens que se cultivam.”
Marechal F. Foch
No passado dia cinco, a propósito da comemoração da implantação da República, um grupo de pessoas encontrou-se motivado pelo Espírito de Tertúlia, partilhando opiniões e interrogações sobre o tema: QUE FAZER COM ESTA REPÚBLICA?
O encontro realizou-se na sede do Clube de Castelo Branco, colectividade quase centenária, mas aberta a todas as iniciativas de animação cultural. De facto, num tempo em que vivemos bombardeados por quantidades enormes de informação, em que somos levados a assistir possivelmente, sem reflectir, sem intervir e dialogar, são cada vez mais escassos e virtuais os contactos pessoais, as relações humanas directas em que se partilham opiniões e testemunhos.
Em termos de geografia dos afectos, estamos cada vez mais pobres, com muito menos tempo para as pessoas se conhecerem e respeitarem como pessoas, viciados que vamos estando cada vez mais em consumir o que nos é apresentado já como produto acabado. É mais cómodo aderir a ideias feitas, ao espectáculo, a valores e a modas que se nos impõe por razões do mercado, por ser politicamente correcto ou nos dar vantagem imediata não ir contra o sistema. Mas, tal comodidade imediata, tem um efeito cumulativo bloqueador da liberdade de crítica responsável, compromete a capacidade criativa e pedagogicamente formativa que é a base da cidadania activa, da formação para os valores humanos e socialmente democráticos da participação, da entre-ajuda e da solidariedade.
Na falta de espaço e de oportunidade de encontro, propôs-se o meu amigo Luís Lourenço (Licenciado em História), organizar um conjunto de tertúlias, contribuindo desde logo para revitalizar o espírito de tais convívios, com um texto de onde vou retirar com a devida vénia, as seguintes ideias:
- Tertúlia é por definição, uma reunião familiar ou de amigos, assembleia literária ou de artistas;
- Tertúlia é um espaço de debate, de intervenção: cívica, política, social e cultural;
- Tertúlia é um espaço e um tempo de participação por excelência que, infelizmente não abundam. Pretende-se debater, não abater nada, nem ninguém. Pretende-se conversar, não converter, falar, não gritar (declaramos guerra ao ruído). Pretendemos bater-nos pela Cultura, contra a incultura, podendo a tertúlia ser um verdadeiro centro de divulgação e difusão de novas ideias;
- a Tertúlia quer-se oposta à indiferença, quer-se inconformista (ou então ficaríamos em casa, em adoração ao televisor, consumindo de preferência um qualquer programa na moda, do tipo, quanto pior melhor), quer-se apartidária, mas não apolítica.
Deixando a reflexão sobre o primeiro tema (A República), para uma próxima abordagem, o que agora importa sublinhar é este grito de alma em favor da grande relevância que têm os espaços e oportunidades de encontro no âmbito das nossas Colectividades recreativas e culturais.
Sejam quais forem os temas, o que importa é a partilha de pontos de vista, é a discussão, o confronto de opiniões e de testemunhos, de uma forma afectiva, olhos nos olhos, num dar as mãos para a revitalização da cidade real, da vida concreta dos nossos dias. É um exercício de liberdade para uma melhor escola da vida, porque autêntica e participada por cidadãos que desejam ser cada vez mais conscientes e mais livres.
Esta Tertúlia realiza-se quinzenalmente no Clube de Castelo Branco, nas sextas-feiras, pelas 22h. Integram-na, um conjunto de participantes residentes, mas não se quer fechada, pelo que todos, serão bem-vindos.
Lopes Marcelo
*Texto publicado pelo autor em “Gazeta do Interior”, a 18 de Outubro de 2001, na sua coluna quinzenal “Mosaico Cultural”, naquele semanário.
2 Comments:
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
...é pena estar tão longe...um dia quando estiver para esses lados...irei...um abraço...
Enviar um comentário
<< Home