Notas para a visita à Exposição na Fundação Calouste Gulbenkian*
A nosso pedido a Prof. Dra. Benedicta Maria Duque Vieira (Presidente da "Sociedade de Amigos do Museu de Francisco Tavares Proença Júnior") enviou-nos este texto sobre a visita cultural a Lisboa e Setúbal de 17 de Março de 2007, mais concretamente, sobre a visita à exposição na FCG, org. da SAMFTPJ e da Casa Comum das Tertúlias.
A Casa Comum das Tertúlias organizou em conjunto com a Sociedade de Amigos do Museus de Francisco Tavares Proença Júnior, contando com o apoio do Museu do Trabalho "Michel Giacometti" de Setúbal, a uma visita cultural a Lisboa e a Setúbal, com partida de Castelo Branco, no passado dia 17 de Março de 2007.
Visita cultural a Lisboa e a Setúbal, com partida de Castelo Branco. A 17 de Março de 2007.
O texto:
SAMFTPJr. – Notas para a visita à Exposição na Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa, 17 de Março de 2007.
A casa Cartier, fundada em Paris, em 1847, pelo joalheiro Louis-François Cartier, tem hoje uma colecção própria de cerca de 2000 peças que testemunham a evolução do estilo e das técnicas da marca Cartier.
Adquirindo quer em leilões quer directamente aos seus proprietários, foram reavendo assim originais únicos, que fazem parte do museu situado na Rue de la Paix que recolhe igualmente num arquivo documentos e também os desenhos, as provas fotográficas e os moldes de gesso, que serviram de modelo e de mostruário para os clientes ao longo dos tempos.
A exposição que visitamos apresenta 230 peças do período em que Calouste Gulbenkian foi cliente dos joalheiros. Durante 50 anos, a primeira metade do século XX, Gulbenkian comprou sessenta jóias, para si ou para oferecer, das quais cinco, adquiridas entre 1905 e 1920, nos dão as boas vindas na exposição e, no catálogo, são identificadas com uma numeração romana exclusiva (I a V). O pendente “coluna grega” foi escolhido para ilustrar a capa; os outros são um alfinete de chapéu com grande pérola barroca, um conjunto de pendentes em platina, ouro e diamantes, um anel de diamantes e um diamante de cor rosa.
…..O projecto museográfico e a montagem adoptada sugerem um cofre forte onde, entrevista através de uma meia parede com cortes geométricos espelhados ou metálicos, esta alta joalharia se destaca sobre o rosa forte distintivo da Casa Cartier. Ao fundo de cada corredor expositivo documentos de época emoldurados em metal prateado potenciam a profundidade do espaço.
No lado oposto, logo à entrada, correspondência e a carta patente de D. Carlos, de 1905, atestam o apreço da casa real portuguesa pelas criações da família Cartier. Também outros Braganças foram clientes dos joalheiros de Paris, como D.Manuel II, a quem Louis Cartier forneceu um relógio de secretária adquirido pelo monarca em 1909 (9), e Isabel, neta de D.Miguel e rainha da Bélgica, a quem pertenceu um magnífico diadema de enrolamentos que se apresenta na exposição (48).
A relojoaria é, ao lado da joalharia, um sector de eleição da família Cartier. Deve-se-lhe a invenção do relógio de pulso (especialmente pensado para o aviador brasileiro Santos-Dumont que, enquanto pilotava, necessitava dominar o tempo ) e,com este conceito ou com outro mais tradicional, a experiência de novas formas e novas técnicas como as do relógio “misterioso” (assim chamado porque os ponteiros parecem flutuar sem ligação a qualquer movimento mecânico) ou as do relógio de pulso “tank”, que, com a sua forma quadrado/rectângulo, se tornou um clássico.(93) Também aparecem outros com inspiração egípcia (119), indiana (138), nipónica (139) ou persa.(219) Este mesmo gosto por motivos orientais vamos encontrá-lo em objectos variados (cigarreiras, estojos de toilette (123,134), boquilhas (129), faca de papel, pentes, botões), por vezes, com recurso a materiais antigos reciclados.
Entre estes, são dos mais notáveis, um relógio semi-esférico incorporado numa cerâmica persa dos sécs.XII-XIII (219) e um alfinete em forma de escaravelho que utiliza cerâmica egípcia do primeiro milénio a.C.(110).
Na joalharia, toda ela belíssima, destaca-se, apesar das inovações, a continuidade estilística (do estilo “grinalda”, inspirado no século XVIII, à “arte nova” ou à “arte déco”), e a aproximação estilística de Cartier às artes em geral. Entre as inovações as jóias flexíveis e articuladas, permitindo variar as formas de utilização – como colar, como tiara, como pendente (46); o uso, a partir de 1930, do ouro amarelo, depois do cansaço do monocromatismo da platina e do ouro branco (215, 173); o uso sistemático de cristal de rocha (41)e os diamantes coloridos (109).
Calouste.Gulbenkian foi cliente de muitos outros joalheiros, como Boucheron, Van Cleff &Arpels, Fabergé, mas o artista que mais admirou e promoveu foi René Lalique (1860-1845) tendo reunido uma colecção rara de jóias suas, com destaque para os esmaltes e os vidros. Considerada única no mundo pode visitar-se no Museu.
A exposição de Cartier encerra com um filme onde as jóias brilham no seu lugar próprio – isto é, em uso.
*Por: Benedicta Maria Duque Vieira
(Presidente da "Sociedade de Amigos do Museu de Francisco Tavares Proença Júnior")
A Casa Comum das Tertúlias organizou em conjunto com a Sociedade de Amigos do Museus de Francisco Tavares Proença Júnior, contando com o apoio do Museu do Trabalho "Michel Giacometti" de Setúbal, a uma visita cultural a Lisboa e a Setúbal, com partida de Castelo Branco, no passado dia 17 de Março de 2007.
Visita cultural a Lisboa e a Setúbal, com partida de Castelo Branco. A 17 de Março de 2007.
O texto:
SAMFTPJr. – Notas para a visita à Exposição na Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa, 17 de Março de 2007.
CARTIER 1899-1949. O PERCURSO DE UM ESTILO
A casa Cartier, fundada em Paris, em 1847, pelo joalheiro Louis-François Cartier, tem hoje uma colecção própria de cerca de 2000 peças que testemunham a evolução do estilo e das técnicas da marca Cartier.
Adquirindo quer em leilões quer directamente aos seus proprietários, foram reavendo assim originais únicos, que fazem parte do museu situado na Rue de la Paix que recolhe igualmente num arquivo documentos e também os desenhos, as provas fotográficas e os moldes de gesso, que serviram de modelo e de mostruário para os clientes ao longo dos tempos.
A exposição que visitamos apresenta 230 peças do período em que Calouste Gulbenkian foi cliente dos joalheiros. Durante 50 anos, a primeira metade do século XX, Gulbenkian comprou sessenta jóias, para si ou para oferecer, das quais cinco, adquiridas entre 1905 e 1920, nos dão as boas vindas na exposição e, no catálogo, são identificadas com uma numeração romana exclusiva (I a V). O pendente “coluna grega” foi escolhido para ilustrar a capa; os outros são um alfinete de chapéu com grande pérola barroca, um conjunto de pendentes em platina, ouro e diamantes, um anel de diamantes e um diamante de cor rosa.
…..O projecto museográfico e a montagem adoptada sugerem um cofre forte onde, entrevista através de uma meia parede com cortes geométricos espelhados ou metálicos, esta alta joalharia se destaca sobre o rosa forte distintivo da Casa Cartier. Ao fundo de cada corredor expositivo documentos de época emoldurados em metal prateado potenciam a profundidade do espaço.
No lado oposto, logo à entrada, correspondência e a carta patente de D. Carlos, de 1905, atestam o apreço da casa real portuguesa pelas criações da família Cartier. Também outros Braganças foram clientes dos joalheiros de Paris, como D.Manuel II, a quem Louis Cartier forneceu um relógio de secretária adquirido pelo monarca em 1909 (9), e Isabel, neta de D.Miguel e rainha da Bélgica, a quem pertenceu um magnífico diadema de enrolamentos que se apresenta na exposição (48).
A relojoaria é, ao lado da joalharia, um sector de eleição da família Cartier. Deve-se-lhe a invenção do relógio de pulso (especialmente pensado para o aviador brasileiro Santos-Dumont que, enquanto pilotava, necessitava dominar o tempo ) e,com este conceito ou com outro mais tradicional, a experiência de novas formas e novas técnicas como as do relógio “misterioso” (assim chamado porque os ponteiros parecem flutuar sem ligação a qualquer movimento mecânico) ou as do relógio de pulso “tank”, que, com a sua forma quadrado/rectângulo, se tornou um clássico.(93) Também aparecem outros com inspiração egípcia (119), indiana (138), nipónica (139) ou persa.(219) Este mesmo gosto por motivos orientais vamos encontrá-lo em objectos variados (cigarreiras, estojos de toilette (123,134), boquilhas (129), faca de papel, pentes, botões), por vezes, com recurso a materiais antigos reciclados.
Entre estes, são dos mais notáveis, um relógio semi-esférico incorporado numa cerâmica persa dos sécs.XII-XIII (219) e um alfinete em forma de escaravelho que utiliza cerâmica egípcia do primeiro milénio a.C.(110).
Na joalharia, toda ela belíssima, destaca-se, apesar das inovações, a continuidade estilística (do estilo “grinalda”, inspirado no século XVIII, à “arte nova” ou à “arte déco”), e a aproximação estilística de Cartier às artes em geral. Entre as inovações as jóias flexíveis e articuladas, permitindo variar as formas de utilização – como colar, como tiara, como pendente (46); o uso, a partir de 1930, do ouro amarelo, depois do cansaço do monocromatismo da platina e do ouro branco (215, 173); o uso sistemático de cristal de rocha (41)e os diamantes coloridos (109).
Calouste.Gulbenkian foi cliente de muitos outros joalheiros, como Boucheron, Van Cleff &Arpels, Fabergé, mas o artista que mais admirou e promoveu foi René Lalique (1860-1845) tendo reunido uma colecção rara de jóias suas, com destaque para os esmaltes e os vidros. Considerada única no mundo pode visitar-se no Museu.
A exposição de Cartier encerra com um filme onde as jóias brilham no seu lugar próprio – isto é, em uso.
*Por: Benedicta Maria Duque Vieira
(Presidente da "Sociedade de Amigos do Museu de Francisco Tavares Proença Júnior")
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