Corpo todo, de Gonçalo Salvado
Gonçalo Salvado
Lançamento do livro de poesia Corpo Todo de Gonçalo Salvado
(Editora Labirinto)
No Museu Guerra Junqueiro (Porto)
18 de Setembro (sábado – 21.30 h )
No contexto das comemorações dos 160 anos do nascimento de Guerra Junqueiro, vai ser lançado no Museu Guerra Junqueiro (Porto) dia 18 de Setembro (sábado – 21.30h) o livro de poesia Corpo Todo de Gonçalo Salvado (Editora Labirinto, Fafe) com prefácio do filósofo Alexandre Franco de Sá e fotografias de José Miguel Jacinto.
Nascido em 1967, em Lisboa, Gonçalo Salvado tem vindo a afirmar-se como um poeta exclusivo do amor. Publicou cinco livros de poesia: Quando, A Mar Arte, Coimbra, 1996; Embriaguez, Sirgo, Castelo Branco, 2001; Iridescências, Sirgo, Castelo Branco, 2002, Duplo Esplendor, Afrontamento, Porto, 2008 e, muito recentemente, Entre a Vinha, Portugália Editora, Lisboa, 2010 (obra que será lançada no Museu Vinho Bairrada, em Anadia, dia 25 de Setembro (sábado – 16.30 h) e cuja apresentação estará a cargo de Fernando Paulouro, autor do prefácio).
Acerca de Corpo Todo escreveu Alexandre Franco de Sá:
“Ao invés de expressar o encontro amoroso na abstracção sublimada da sua vivência, ao invés de introduzir uma distância entre o amor e a palavra que o celebra, Corpo Todo oferece-se antes como o próprio arrebatamento do amor tornado palavra”.
Prefácio a Corpo Todo de Gonçalo Salvado*
No altar profano
de teu corpo
oro a todos os deuses
Conta Diógenes Laércio, na sua conhecida Vida dos Filósofos Ilustres, que Heraclito de Éfeso, a quem se deve o primeiro uso do nome filosofia, ao terminar a composição do seu livro, foi depositá-lo piedosamente no templo de Ártemis, aos pés da deusa. Assim é, também, com o presente livro de Gonçalo Salvado, Corpo Todo. Também este é uma obra deposta aos pés de uma deusa. Todo ele é a evocação de uma mulher divinizada, exaltada em cada imagem luminosa, em cada palavra depurada até à expressão do essencial, em cada verso desadornado do que quer que seja de supérfluo.
Corpo Todo é, por isso, um livro de desassossego. Trata-se de um livro cujos poemas são o dizer sempre diferente de um mesmo. Cada poema encerra aqui a mesma celebração do amor, em todas as suas dimensões, desde a erótica à mística. Cada um destes poemas é o testemunho de um encontro arrebatador; é a presença de um ímpeto que, no encontro com a mulher amada, eleva o homem, numa simultaneidade paradoxal, para o mais íntimo de si e para uma inebriante transcendência sempre espantosa, enigmática e insuspeita.
Corpo Todo é, então, um profundo testemunho vivido, não um retrato meramente sentimental. Os versos deste livro não falam propriamente do amor. Ao invés de expressar o encontro amoroso na abstracção sublimada da sua vivência, ao invés de introduzir uma distância entre o amor e a palavra que o celebra, Corpo Todo oferece-se antes como o próprio arrebatamento do amor tornado palavra. Dir-se-ia que o arrebatamento amoroso é o seu centro, a sua fonte convertida em verbo. E é por isso que ele é um livro constituído por fugazes imagens lapidares, por instantes em que o amante se dirige directamente à mulher que o arrebata. É por isso que as palavras são aqui não comunicação, não expressão de uma mediação entre o que é distante, mas simples testemunho da mútua pertença do que se funde numa unidade.
A mulher aqui divinizada, celebrada como a imagem encarnada da transcendência, é para o poeta de Corpo Todo também a condição do seu encontro consigo mesmo. Daí que o corpo despido desta mulher seja, como se lê num dos poemas, o próprio vestido da sua alma. A nudez do corpo feminino que se entrega é, no seu despojamento, o ímpeto ígneo para que a alma do poeta se eleve, se revista de si própria, encontrando-se consigo mesma e tornando-se verdadeiramente quem é. E todos estes poemas são, por seu lado, o cristalino despojamento de uma alma que ama, de uma alma cujas palavras falam também por silêncios, apresentando-se inteiramente despidas de tudo o que não seja imprescindível.
É neste jogo fecundo entre encobrimento e despojamento de corpos que mutuamente se entregam que todo este livro se desenvolve. Depositado aos pés do corpo despido de uma mulher tornada deusa, dir-se-ia que os poemas de Gonçalo Salvado se oferecem também, como o mencionado livro de Heraclito, a uma mulher elevada à condição da deusa Ártemis. Uma tal deusa, casta e selvagem, perigosa na sua virgindade, é aquela que se subtrai sempre à plena realização de um desejo que se extingue na sua consumação. Assim é também a mulher evocada em Corpo Todo.
No corpo desta mulher que se entrega está sempre não uma chegada, mas um renovado ponto de partida, aventurando-se numa ousada navegação em que os dois amantes, juntos, são os mastros de um navio que ruma ao incerto. Os poemas de Corpo Todo são, então, o lugar da coincidência entre o desejo imenso, o arrebatamento inextinguível para o que é sempre inalcançável, e a cumplicidade íntima da ternura de uma viagem feita a dois. No belíssimo livro de Gonçalo Salvado lê-se, em última análise, a festa desta coincidência. E é este, penso, o segredo cativante destes versos, lembrando que a frescura primaveril da aurora se esconde, renovada, em cada Inverno que a parece extinguir, ou em cada Verão em que ela mesma se consome.
*Alexandre Franco de Sá
Livros de poesia de Gonçalo Salvado:
Quando – A Mar Arte, Coimbra, 1996
Embriaguez – Sirgo, Castelo Branco, 2001
Iridescências – Sirgo, Castelo Branco, 2002
Duplo Esplendor - Afrontamento, Porto, 2008
Corpo Todo – Labirinto, Fafe, 2010
Brevemente:
Entre a Vinha – Portugália Editora, Lisboa, 2010
Nota editorial:
Com base na nota enviada para a imprensa.
Etiquetas: Corpo todo, Gonçalo Salvado, poesia
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