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Casa Comum das Tertúlias

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terça-feira, setembro 21, 2010

Gonçalo Salvado apresenta livro de poesia "Entre a Vinha", na Bairrada


Lançamento do livro de poesia "Entre a Vinha"
de Gonçalo Salvado 
(Portugália Editora, Lisboa)
 
no Museu Vinho Bairrada (Anadia)

a 25 de Setembro de 2010 (sábado)

16h 30m


O livro de poesia Entre a Vinha de Gonçalo Salvado (Portugália Editora, Lisboa) com prefácio de Fernando Paulouro e desenhos de Rico Sequeira, será lançado no Museu Vinho Bairrada (Anadia), no próximo sábado, dia 25 de Setembro pelas 16h 30m. Fará a apresentação Fernando Paulouro. A obra, (o sexto livro do autor), insere-se numa tradição lírica que tem como modelo o Cântico dos Cânticos e o Rubaiyat de Omar Khayyam, textos sempre presentes na poesia de Gonçalo Salvado. 

Acerca de Entre a Vinha escreveu Fernando Paulouro:
“Estamos perante uma obra trabalhada ao gume do pensamento, em que a música das palavras, o ritmo breve ou mais alongado dos versos converge num esplendor que eu, mais do que duplo, diria múltiplo, pela forma encantatória como o poeta realiza a evocação do corpo e se transcende na criação de um “destino solar” único e definitivo. Um canto de amor que se desenvolve em poemas de sentido epigramático, numa epifania poética da mulher que é, na realidade, um “Cântico dos Cânticos”.

Gonçalo Salvado
(foto cedida pelo autor)
Prefácio a Entre a Vinha, Portugália Editora, Lisboa, 2010

GONÇALO SALVADO: UMA ARTE DE AMAR*

Eu devo afirmar, como quem faz uma declaração de interesses, como agora se diz, que desde os primeiros versos de Gonçalo Salvado, descobri nele uma originalidade e um talento que o tempo veio confirmar amplamente. Desde os tempos juvenis, quando as primícias literárias parecem aventura ontológica, que adivinhei nele uma dessas vocações que pertencem ao reduzido número daqueles que, diz-se, são tocados pelo dom dos deuses, o milagre que torna a verdadeira poesia possível. A verdade é que, anos mais tarde, falando do jovem Gonçalo a Eugénio de Andrade, ele, sem surpresa minha, partilhou idêntico entusiasmo sobre a transparência de um talento que os versos afirmavam já.
Gonçalo Salvado foi fazendo o seu “ofício de paciência”. ao arrepio de lirismos pré-fabricados, edificando verso a verso a casa da sua poesia, feita de livros onde a limpidez do verbo, a riqueza metafórica, o rigor da palavra são a medida de uma expressão poética original, quer dizer: com identidade própria.
Essa recusa da facilidade, essa obstinação da síntese verbal, essa procura de um chão feito de simplicidade (o trabalho que isso dá!) faz dele um autor de obra pontuada de intervalos, mais ou menos longos.
Eu próprio, nos efémeros encontros em que às vezes, nos cruzámos, o questionava sempre novos livros – e ele respondia sempre com aquele sorriso sereno que era sempre a promessa de qualquer dia, qualquer dia…Muitas vezes pensei nele, imerso numa “solidão cantante”, como diria Herberto, à procura dos seus versos exaltantes em louvor do corpo e de um mundo de alegria e pureza, de harmonia e luz, realidade sublime e fantástica, fonte de desejo, sonho que nos toca como a brisa do mar, e mais do que tudo: capaz de encantar a noite.
Só a dignidade do poeta tem o poder de elevar à criação esse tempo primordial, um espaço habitável pelos nós do afecto, a tal “solidão cantante” de que há bocado falava, o rio subterrâneo que corre do silêncio para a palavra, na construção da sua “Arte de Amar”. É isso que a poesia de Gonçalo Salvado nos oferece – na surpresa dos instantes, na consubstanciação sensorial da mensagem, na explosão imagética que, ás vezes, nasce de dois ou três versos que agitam o coração como a brisa do mar.
No centro dos seus versos está o amor. E é na contingência de uma arte alimentada pela mais exigente tradição da poesia portuguesa, a tradição do lirismo amoroso, na observação certeira de Pedro Mexia, que Gonçalo Salvado alimenta a sua obra.
Poderemos encontrar uma explicação subtil para esse caminho se nos lembrarmos de um universo poético que Gonçalo Salvado tem consigo mesmo, de raiz camoniana, bem expresso no belo livro Camões amor somente (de 2000, numa edição que podemos considerar ibérica) onde ele escolhe os mais altos momentos da lírica camoniana e afirma um projecto de escrita, cuja maturação preenche os seus dias: “Construir – diz Gonçalo Salvado – um Cântico dos Cânticos e uma Arte de Amar portugueses servindo-nos de fragmentos da lírica, da épica e da dramaturgia camonianas”. A biografia dos seus versos, para utilizar um conceito de Octávio Paz, é feita desse lume milenar, a exaltação do amor e de uma humanidade intemporalmente intacta, que se gravou no tempo como a grande aventura da escrita poética universal.
É essa dimensão que encontramos no surpreendente Quando (1996), em Embriaguez (2001), Iridescências (2002), Duplo Esplendor (2008) e agora, em 2010, em Entre a Vinha.
Estamos perante uma obra trabalhada ao gume do pensamento, em que a música das palavras, o ritmo breve ou mais alongado dos versos converge num esplendor que eu, mais do que duplo, diria múltiplo, pela forma encantatória como o poeta realiza a evocação do corpo e se transcende na criação de um “destino solar” único e definitivo. Um canto de amor que se desenvolve em poemas de sentido epigramático, numa epifania poética da mulher que é, na realidade, um “Cântico dos Cânticos”.
Poeta dos instantes, ele parte da parte para o todo, como se nesta efabulação de momentos estivesses “os pequenos pormenores de deus”, de que fala Steiner.
A poesia de Gonçalo Salvado convoca ao prazer da leitura e ao sonho e, pela natureza universal do seu canto, desafia também à sua apropriação pelo leitor. Que melhor virtude se pode cruzar com o trabalho do poeta do que esse espelho de palavras em que nos vemos e revemos?

*Fernando Paulouro
Nota editorial:
Com base na informação enviada para a imprensa.

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1 Comments:

At 7:22 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Vinha na Bairrada...???
Como diria Rufino, proprietário da leitaria Estrela de Alva no filme Pátio das Cantigas: Compreendido!

 

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